O Senador do Emprego

Energia nuclear: um debate sem preconceitos

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Por Laércio Oliveira *

A energia elétrica é insumo imprescindível para o crescimento industrial de um país, base para a geração de divisas e empregos.  Corretamente, o Brasil vem trabalhando para diversificar as fontes de sua matriz energética – estratégia governamental verificada em todo o mundo -, no intuito de garantir maior nível de segurança no fornecimento.

Para atender ao aumento da demanda por energia elétrica, coerente com o crescimento econômico do país, estudos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) mostram que o Brasil requer um incremento de geração entre 3.000 megawatts e 4.000 megawatts, por ano, até 2015.

Nesse panorama, são espantosas as reações refratárias até mesmo ao mínimo debate sobre a validade de investimentos nacionais em energia nuclear. É compreensível que essa opção seja polêmica, principalmente pelo equívoco bastante comum de associá-la a armamento nuclear.  São, porém, tecnologias completamente diferentes.

Da mesma forma, um dos maiores avanços no tratamento da saúde humana nos últimos tempos vem da medicina nuclear, cujas técnicas de diagnóstico e terapêuticas se valem da radiação nuclear com toda segurança.  Ninguém concebe deixar de lado tais recursos médicos porque, em 1987, o Instituto Goiano de Radioterapia abandonou uma cápsula com césio-137, contaminando centenas de pessoas, no maior acidente radioativo do Brasil.

Não há dúvida de que é benéfíco investir maciçamente na geração de energias eólica e solar, mas é preciso entender que essas opções são intermitentes, ou seja, sem continuidade. Não há vento o tempo inteiro e, de noite, não se pode contar com o sol. É assim que os países desenvolvidos buscam alcançar a diversidade do chamado grid energético, associando as variadas formas de geração " entre as quais a nuclear.

O cidadão precisa ter em mente que o Brasil está no caminho certo " ao menos nesse assunto. Em julho deste ano, o consumo residencial de energia registrou crescimento de quase 8%, em relação a julho de 2010, como mostrou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia. Isso deve-se, em grande parte, à ascensão das classes baixa e média. Com maior poder de compra, as famílias tendem a investir em eletrodomésticos " e todo mundo quer ter energia nas tomadas para ligá-los.

Ora, com apenas 30% do seu território prospectado, o Brasil abriga atualmente a sexta maior reserva de urânio do mundo, estimada em 309 mil toneladas. Essa grande disponibilidade é um argumento poderoso a favor das usinas nucleares, mas ganha corpo, cada vez mais, também, a avaliação positiva de ordem ambiental. O fato de a geração de energia nuclear não contribuir para o aquecimento global, ao não emitir gás carbônico nem efluentes poluidores, tem levado organizações e líderes de movimentos ambientalistas " antes ferrenhos críticos à construção de usinas nucleares " a reverem suas posições.

É o caso, por exemplo, do doutor em Ecologia Patrick Moore, co-fundador do Greenpeace nos anos 70, hoje um defensor da geração energética por usinas nucleares e hidrelétricas. Em seu entendimento, essas são as únicas opções capazes de substituir a atual demanda por petróleo, carvão mineral e gás natural, combustíveis fósseis cuja queima é responsável pelo aquecimento global. Por conta da ortodoxia do Greenpeace, Moore tornou-se um proscrito dentro da entidade que ajudou a fundar. O que propomos é justamente o contrário: um debate sem preconceitos, em que a razão se sobreponha à paixão.

Uma das maiores preocupações, plenamente justa, diz respeito à segurança. Mas os fatos mostram que, atualmente, há quase 443 reatores espalhados em mais de 30 países. As usinas nucleares funcionam há mais de 50 anos e, nesse período, aconteceram dois acidentes de proporções graves. O primeiro foi o de Chernobyl, na então União Soviética, hoje Ucrânia, numa usina reconhecidamente sucateada. Isso não impediu que, em abril passado, transcorridos 26 anos dessa tragédia, o primeiro-ministro da Ucrânia, Nikolai Azarov, defendesse enfaticamente que "renunciar à energia nuclear seria um erro", pois "ela é parte inalienável do progresso científico".

A nova geração de reatores é pelo menos 10 vezes mais segura do que os projetos de reatores daquela época. Nesse aspecto, é importante colocar que o segundo acidente, os vazamentos verificados em março deste ano na usina de Fukushima, no Japão, aconteceram depois de um tsunami provocado por um terremoto de 9 graus na escala Richter. Isso significa, na prática, que a usina foi submetida a duas enormes catástrofes naturais e, mesmo assim, a crise advinda terminou administrada.

No Japão, existem hoje 55 usinas nucleares ativas e destaque-se que é um país situado em zona de grande instabilidade geológica, o que o torna especialmente propenso a terremotos, como é notório.
O cenário de crescimento para o Brasil que almejamos recomenda um debate sério sobre a energia nuclear, despido de preconceitos e alicerçado no critério científico. Essa é a minha proposta. Não há dúvida que, para um parlamentar, seria bem mais fácil ficar na zona de conforto, longe de temas que suscitam tanta polêmica e reações extremadas. Porém, a vida mostra que o caminho mais fácil nem sempre é o melhor.

* deputado federal
Fonte: Jornal da Cidade

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