O setor de serviços na segurança econômica e na paz social
No início deste ano, o pedido de concordata da centenária companhia fotográfica Eastman Kodak se tornou um marco de como o sucesso de outrora não necessariamente estará garantido frente a um mercado cada vez mais competitivo e em constante mutação. Inventora do filme fotográfico, a Kodak deu seu último suspiro por conta do advento e popularidade acelerada da tecnologia digital. Ou seja, o império ruiu porque erguido sobre um produto que o consumidor moderno destinou à obsolescência.
Esse preâmbulo tem o fito de ilustrar como circunstâncias específicas podem ser determinantes para soterrar nichos de negócios, enquanto, da mesma forma, catapultam outros ao sucesso. No Brasil atual, como se sabe, a indústria enfrenta percalços, oriundos basicamente da cotação do dólar, responsável pelo desaquecimento nas exportações, e da agressiva competitividade da China, favorecida, entre outros aspectos, por uma mão-de-obra barata além do aceitável.
Mas é nesse mesmo cenário que viceja o setor de serviços, força motriz do crescimento econômico do Brasil nos últimos anos, já respondendo por quase 70% de nosso Produto Interno Bruto (PIB). O desemprego baixo e a alta no rendimento médio estimularam a demanda por serviços que, diferentemente da indústria, não se veem à mercê da competição estrangeira e tampouco dos ditames da macroeconomia. Com mais recursos, as famílias brasileiras deram impulso significativo sobretudo aos setores de telefonia e informática, numa rede de benefícios que se estendeu aos restaurantes, hotéis e clubes, entre outros.
Desenha-se claramente um círculo virtuoso, no qual emprego e renda imprimem vigor aos serviços que, por sua vez, respondem gerando mais emprego e renda. Automação e tecnologia não chegam a ameaçar essa retroalimentação, pelas especificidades dos negócios. Os múltiplos avanços da informática e, no âmbito industrial, dos maquinários que reduziram quadros em linhas de montagem, pouco impactam a mão-de-obra dos serviços. De encanadores a garçons, de cabeleireiros a guias de turismo, a atuação dos profissionais do setor ganha espaço concreto, quase incólume a tais transformações. Os fatos atestam que o mercado de trabalho brasileiro se condiciona, cada vez menos, ao desempenho da indústria, assim como a segurança econômica da nação.
Essa realidade fez com que, enfim, o poder público em sua esfera maior " o Governo Federal " conferisse ao setor de serviços uma atenção a que, na verdade, ele há muito já fazia jus. Iniciou uma série de ações para estimular as exportações de serviços, por exemplo nas áreas de tecnologia de informação e consultorias, no propósito de garantir à atividade instrumentos já em prática no comércio exterior de bens e produtos. Sem dúvida, alento grandioso para um setor que, até passado recente, só contava com os próprios esforços, lutando num ambiente de políticas tributárias e burocráticas desfavoráveis, sob o jugo de negligência injusta e injustificável.
Torna-se evidente o protagonismo dos serviços na economia brasileira e, num reflexo direto, como instrumento de paz social, ao viabilizar ascensão profissional e financeira em recompensa ao trabalho digno e eficiente, dentro da saudável coerência da meritocracia. Esta se constitui, no parâmetro ideal, a lógica da livre iniciativa, que nestes termos, por sua vez, é princípio benfazejo do estado democrático de direito.
* Fonte: Diário da Indústria, Comércio e Serviços